sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

presente


Te ofereço palavras em uma corrente de sensações muito verdadeiras que me inundam. E meu corpo te escreve, te desenha em cada linha. Sou puro rabisco.

Estou na borda do tempo, e você é um presente, é meu presente, meu instante mais bonito.

"Sou onde não penso." (Lacan)

Meu presente, momento impensado, inspiração e intuição puras. E bem por isso que foi tão bonito.
Pós você, passei a te pensar, e aí suspeito que a beleza do nosso encontro possa ser prejudicada pela maquinaria indelicada do raciocínio.

Quero você sem pensar
Sem pensar é melhor
pense nisso.

Cabala


Em 31 de outubro, dia das bruxas, perdi um amor.
Em 01 de novembro o velei
Em 02 de novembro, dia dos mortos, o enterrei

Passei dias em luto

Em 15 de novembro, proclamei minha república
Uma república bela, forte e de uma mulher só
Celebrei com a pessoa mais interessante do Brasil
Um ser da arte, do agreste, de Oxóssi

Frankly, my dear



Não ligo pras marcas dos copos molhados na madeira
Não ligo pros brincos perdidos
Não ligo pros livros furtados
Não ligo pras notícias nos portais
Não ligo pra sujeira no carro
Não ligo pros 88 bi desviados
Não ligo pras multas, nem pros advogados
Não ligo pros elogios rasgados
Simplesmente não ligo

Nem pra você que amo tanto eu ligo

Estou num estado

de puro descaso.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

A Marcha das Vadias

- Pra começar

Pra quem não conhece a origem ou as razões da Marcha das Vadias, vale a pena saber o básico:

A Slut Walk realizou-se dia 03 de abril no Canadá como reação à fala de uma autoridade policial canadense que declarou que "as meninas deveriam evitar vestir-se como vadias se não quisessem ser vítimas de estupro."  

As vestimentas e postura de vida de uma mulher já foram* razões jurídicas aptas a excluir a responsabilidade penal do autor de um estupro. A mulher sofria uma dupla vitimização: a do estupro - um atentado traumático contra sua dignidade e liberdade sexual - e a dos doutos julgadores, que viam na mulher "leviana", "promíscua", "indecente" (ou uma mulher que se veste tal qual uma slut) uma mulher indigna de proteção jurídica. 

Não faz muito o termo "mulher honesta" (a merecedora de proteção) foi excluído do nosso Código Penal brasileiro. Os termos vão, os discursos ficam, a jurisprudência é farta, o bagulho é louco e o processo é lento.

O processo é lento, e a assimilação social da autonomia feminina ainda encontra suas resistências. Em muitos lugares essa espécie de discurso que quer apoderar-se do corpo feminino encontra sobrevida.


- Sobre o termo "vadia"

No Canadá, o policial utilizou o termo "slut" (promíscua, prostituta). Por ironia, por bom humor, por estratégia as meninas decidiram usar o termo com o qual o policial tentou ofendê-las para justamente protestar. 

Vestir a palavra-munição do rival como estratégia para desvalorizar o insulto e quem sabe reaver o termo.  
- Fulana, você é uma vaca. 
- Tudo bem, não vejo problemas com vacas. Elas são mansas, nos dão carne e leite, são amigas. O olhar das vacas é tão doce e resignado que até acho que não mereço ser chamada vaca. É nobreza demais pra mim

Mais ou menos isso.   

No Brasil o exemplo foi e tá sendo seguido. Achei apropriada a escolha do termo porque desvela rapidamente o preconceito contra à mulher ao compararmos os significados correntes de "vadio" e "vadia".
Vadio é o desocupado. Vadia é a leviana. O termo masculino remete à ausência de ação, o inerte, aquele que não trabalha. O termo feminino remete à ação sexual da mulher. A ousada, a vulgar, a promíscua. Demonstração óbvia de como discursos se operaram em detrimento da liberdade feminina. 

Choca a tradicional família curitibana, paulista, mineira, gaúcha mas é o preço da tentativa. Ninguém mexe com concepções tão arraigadas sem algum choque. 

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* Quis ser otimista. Mas desconfio que uma pesquisa mais apurada das recentes decisões judiciais demonstraria a insistência nesse argumento. 

domingo, 17 de abril de 2011

Casa de Veraneio para Perdedores Otimistas

Será um sucesso no ramo do fracasso.


É um novo conceito no ramo da hotelaria dirigido especialmente às almas feridas e corações partidos ou confusos. Também adequado para artistas em crise, recém-demitidos e solitários crônicos. É local de fuga e construção de novas fantasias, com opções de festas ou silêncio, bebidas à vontade, e uma equipe preparada na arte da escuta e elaboração de luto.

Apenas angustiados e perdedores de toda (ou nenhuma) sorte podem usufruir do recanto. Não são admitidas crianças ou casais felizes. Animais sim.

Há caramanchões na beira de um lago situado numa planície, contornado por ipês de todas as cores. Banheiras, ôfuros, revistas variadas, chafarizes, gatos, incensos relaxantes, salas de projeção com excelentes opções de filmes, e outras distrações sensoriais de bom gosto para aqueles dias ruins.

quinta-feira, 17 de março de 2011

excertos

Os riscos das unhas vermelhas nas páginas do livro. Era tudo que Liana havia me permitido saber sobre ela. (Rasante)

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Retocou a maquiagem enquanto aguardava o embarque. Da bolsa tirou seus fones desenrolando os fios com visível impaciência, sacou um cigarro e saiu. O entardecer azul e laranja do começo de janeiro, as imensas mudanças, a vida sem ele, a coragem da viagem inusitada, a grandiosidade dos jatos decolando no horizonte limpíssimo, e aquele saguão de despedidas e reencontros lhe deixaram especialmente comovida. Duas lágrimas grandes e pesadas percorreram vagarosamente seu rosto. "Hora de ser feliz, virginiana." Jogou o cigarro, sorriu para si mesma, e sentindo-se forte e bonita, embarcou.
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E te rabisco, te aspiro e te escuto
em cada espaço, em cada muro
impresso
Te tenho muito perto
E te sinto nos goles dos vinhos

(Janeiro/2011)

sexta-feira, 11 de março de 2011

um canto entre tantos

Vidas e mortes de menina crescida

O verão tá acabando, mudei o nome do blog e o corte de cabelo. As cinzas da quarta-feira foram sopradas, Saturno retorna e o cãozinho foi castrado.

Deixo do nome antifleuma (indignada, ardida, sanguínea) para buscar outras significações pra esse repertório. É que pra dar algum sentido à minha batalha imaginária contra os cínicos e impassíveis, deturpei o sentido de fleuma, que é calma, paciência, serenidade. Já não posso sustentar qualquer contrariedade à fleuma, oras. Preciso é buscá-la. Tentando abandonar esse equívoco é que decidi mudar o endereço. Os nomes e suas repercussões...

E nesse ato re-inaugural de reconhecimento e mudança é que repenso esse verso:

"A gente nunca muda. A gente só muda quando morre."

É preciso morrer pra mudar? Não fisicamente, mas subjetivamente se deve deixar morrer. Abandonar definitivamente um erro é matar uma porção de si na qual contém uma certeza que precisa partir. É preciso humildade pra não temer essas mortes simbólicas que nos deixarão mais vivos. Desmonte, descarte que é morte pra ser vida (melhor) de novo.

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O verso é falado por André Abujamra na música Roda do Cavalo Afoito do Universo em Verso Livre, banda curitibana pela qual guardo imenso carinho. A música é de autoria dos queridos Fred Teixeira e Bernardo Rocha. Tem o clipe aqui.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Natal na avó

Fui contrariada. Olhei para a cama da minha vó com seus 5 ou 6 pintchers, a tela de 42 polegadas e me instalei.
Na infância não gostava de ir, embora tentasse com sinceridade. A vó, Dona Talita, matava as galinhas torcendo o pescoço e afogando-as numa bacia, depenava-as, fervia-as, servia-as com um molho vermelho gorduroso que me repugnava profundamente. Senti meu primeiro baque do real quando vi com a auréola azul no olho parado e morto, o bico semi aberto e o relevo dos poros da galinha que seria comida. Os adultos bebiam e dançavam algo como vanerão. Achava aquilo de uma vulgaridade tamanha que me constrangia estar ali. Pensava na sorte/azar de ali ter caído e me tornado. Um tornado.

(continua)

Da raiva

Licença-divórcio
e eu me entupo de texto

Era raiva. Gana irresistível de difamá-lo. Desejava com força que a vida dele fosse miserável e só sem mim. Que nas noites a lembrança da minha imagem o torturasse de saudades, de tesão, de arrependimento. E só por isso sabia que ainda o amava.

Argumentos, eu me armava deles para explicar os benefícios da separação. Achava que assim organizaria meu mundo. Achava que os argumentos polidos e coesos criariam verdade dentro de mim e que essa verdade estancaria aquele escorredouro de sangue poluído, aquela cólera.

Que engano. Cansei pessoas, amarguei em estagnação e na confusão das noites, dos vinhos, dos outros.
E tudo porque aquele tolo não pediu pra voltar.

Nos carros, nos parques, nos restaurantes, agora aquela forte impressão de que todos eram felizes, menos eu.

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(continua)

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Da Ternura

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Era uma daquelas tardes de frio e sol em Curitiba que compramos aquelas balinhas que estouram na boca. Adiamos o cinema para sentar num parque e amolecer ao sol. Nesse dia ele me chamou: "amor", sorrindo. Em consenso o beijei devagar, segurando seu rosto. O estado da paixão, o presente e o devir. Era como ter certeza de uma surpresa boa todos os dias; andava por aí como se tivesse um buquê de satisfação no peito.  

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Trecho Rasante

O Rasante da Mangava


Ela se foi sem querer ir. Sem nenhuma convicção, disfarçando firmeza, ralhou consigo mesma e seguiu. Era necessário abandonar de vez o mal estar e as reclamações que aquele contexto trazia para si. 

A amenidade do sol e do vento a convocavam para a languidez e a indiferença. Mas o coração insistia em produzir aquela substância, aquele fluido que não se detecta em ecografias, o fluido que pesa e amarga o espaço entre seus seios. "Recomponha-se", pensava. Precisava falar, expor toda aquela crueldade sofrida. Era dor imerecida que precisava sangrar.

Mas calma, não há dor que perdure eternamente. Aquele corpo ainda jovem e ávido de vida era sábio e sabia que não demoraria para voltar a dançar. Quando a psique não dá conta e hesita, sobra a vantagem de se saber corpo que simplesmente vai.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Anotações de um Seminário sobre Psicanálise

Essas são umas anotações de um seminário de psicanálise que acompanhei em 2009 na Associação Psicanalítica de Curitiba. A palestrante se chama Rosa Maria Marini Mariotto. Colo aqui para partilhar com vocês. Tive que reorganizar, completar frases e suprir algumas lacunas. Não todas, porque cobrir tudo é muito.

Obs.: Outro (grande Outro) é diferente de outro (com 'o' minúsculo, que é o semelhante, o outro especular). Essa é uma das "convenções" do discurso psicanalítico.


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Outro - função de miragem na qual o sujeito se reconhece.... como miragem e ficção. Cisão do sujeito. Em torno do qual o sujeito se constitui. Esse outro necessário para constituição do sjto, do seu saber de si. Na criança,  quem oferece as imagens para sua constituição: o outro. Que depois coincide com o Outro. Lugar oferecido a partir das palavras, resta ao sjto se apropriar. Depois ele se retira desse lugar para não ser esse outro. Pólo de identificação - para que o sjto não se misture com esse outro. Nem sempre a mãe encarna a função do grande Outro (função da linguagem). A linguagem antecede o próprio cuidado.

Função da miragem - o outro semelhante, importância - olhar materno para o organismo do bebê. Ela, a mãe, não o vê tal qual um organismo... mas como um representante do seu desejo, portanto o vê em um outro lugar (lugar de falo - objeto a). Olhar da mãe projeta nessa tela uma imagem de filho. A tarefa da criança: tentar corresponder a essa imagem, se apropriando, se identificando a ela - identidade que é outra, não é ela... ela topa corresponder. Um nível de correspondência entre o sujeito e o sujeito ideal. Essa miragem que a mãe localiza (pensa no oasis no deserto - não existe) precisa ser avistada se não a criança permanece na condição de bebê feio, enrugado, gosmento...na condição de um tubinho de carne, tal qual se pode dizer o mero corpo.

Dissemetria entre o filho imaginário e o filho real. Todo objeto obtido nunca é o esperado. A criança e a mãe convivem com essa diferença: aí se dá a cisão. Tal discrepância faz com que a criança, ao se identificar com aquela imagem não seja toda a imagem (do olhar da mãe).

"A psicanálise não é uma egologia" (Lacan, crítica a Klein) - pasteurização da psicanálise pelos pós-freudianos, subversão daquele legado, atribuindo à psicanálise uma terapia do ego. Freud em O Id e o Ego dá uma importância grande ao Ego (a responsabilidade do Ego: intermediação entre mundo externo e interno; lugar da operação do recalque - defesas... localização do ego como reservatório da libido, distribuidor da economia libidinal - atribui ao Ego (cs e ics, instância egóica) importância ainda não antes vista. Diz Freud que a análise só se inicia a partir do Eu.)

Eu (em Freud, o Id e o Ego) - a parte do Id que no contato com a realidade se modificou. "Onde Isso era o Eu deve advir." O Eu é fruto da relação com o outro semelhante, relação imaginária com o outro. Mas não pode ser reduzido apenas a essa miragem ofertada pelo outro. Tem como matéria prima o Id - instância mais inacessível e mais primitiva do sujeito, sede das pulsões. O Eu tem uma comunicação, uma origem, que não tem nada a ver com essa relação identificatória com o outro.

Psicologia do Ego, reforçamento do Eu como sede das defesas. Essa análise se dá no Imaginário, a transferência fica imaginarizada. Preocupação com o analista, modelo de identificação.

Um análise em que se fala pro simbólico - transferência simbolicizada.

O ego para Lacan, é objeto imaginário. Lugar de desconhecimento de si mesmo.

Como o sjto tem notícia de sua pulsão? A partir de suas representações... palavra ou afeto (Freud).
Lacan: pelo significante ou significado.

Identidade de si, esse Eu, é lugar que ao invés de revelar a verdade do sujeito, mascara essa verdade. O lugar da verdade do sjto está alhures, em outro lugar.

O que se separa?

No campo do real - organismo
Imaginário - corpo.
Simbólico - sujeito.

Uma parte do organismo não é apropriada, nem pelo registro simbólico, nem pelo imaginário. Há algo que marca o sjto que é a inscrição nesse organismo que é o significante. O que é marcado não compreende toda a essência do ser. Esse resto, que escorre, nos coloca sempre nesse movimento de cisão. Real é td aquilo que não cessa de não se inscrever. Simbólico - td aquilo que não cessa de se inscrever.

Desejo é do campo do simbólico, que só se institui com a entrada do sjto no campo da linguagem, isso coloca o sjto em falta.

O simbólico é o que permite a existência do inconsciente.

Sjto se aliena pq não tem alternativa. Fato: bebê, filhote, necessitam ser cuidados. Alienação no outro. Recolhimento - acolhimento impõe ao pequeno um mínimo de alienação - submetido, assujeitado.  
A interpretação que o outro materno faz das demandas desse corpo. Criança modula os choros. Esse vai-e-vém da alienação, sujeito supõe que sobre ele o saber está no outro. Alienação ao desejo do outro.
Separação será vivida, reconhecida, na sua travessia edípica.

Mãe fálica psicótica - a que sabe tudo. "A profissional do desejo" - Jerusalinski.

Desalienação no trabalho psicanalítico. Na sua relação com o imaginário, o sjto não deve estar preso a ele. Separação se dá qdo aquele que encarnou o Grande Outro, desencarne dessa posição - qdo a criança consiga diferenciar.

Psicose - o saber de si tá na mãe.
Psicose paranóica - o saber de si e também o saber sobre o mundo e os outros está nele.


Condições mínimas de subjetivação - recalcar. Oferecer que real, simbólico e imaginário se instalem e sejam reconhecidos.

Cisão subjetiva não está só no sjto a ser criado, mas no sjto que cria. O ics tá na mãe também. Elemento componente da subjetividade: insconsciente insiste. Repetição. E localiza essa noção como insistência da cadeia significante, isso que insiste no sjto, ele não tem alternativa. Qdo o sjto estranha a si mesmo nessa insistência revela algo do inconsciente.

Delírio - apreensão literal de tudo - não tem outro sentido.

O que é realidade é vivida para o sujeito como sempre psíquica. (Freud). Para o sujeito psicótico: realidade externa.
Ele vive do modo que ele apreende isso.
Fantasia neurótica (ser mais amado com servir o Outro).

Fantasia para suportar a vida.

Sjto de delírio: o outro permanece fora. Sofre a partir do outro, de fora.
Neurótico: outro que fala nele. Outro tá dentro. Sofre consigo mesmo.

Diferença entre tomar sujeito como coisa ou como causa. Exige trabalho analítico. Neurótico sempre tá nesse entre-muros. Ser causa de desejo ou coisa para satisfazer o outro.

Como se apropriar do seu desejo? Quem é que sabe qual o desejo do Outro? Ngm sabe, se supõe, do que o Outro precisa, do que o Outro padece. Sobre o desejo do Outro não há saber. Assim, se ocupa do próprio sintoma.

Desejo não tem sentido, a gente constrói o sentido. É metonímico. Quais os objetos que vem a representar aquilo que nele falta. Se ocupar do desejo do Outro é se ocupar de suposições do que falta no Outro.

A repetição é insistência de uma fala, que nos embaraça - movidos por necessidades. Repetição é relativa ao campo simbólico. Emerge no sjto como elementos significantes, simbólicos, que insistem no funcionamento desse sjto.

Matematização da Psicanálise - para que não se pudesse cair na tentação de subverter o sentido.

Freud ajuda o leitor a produzir o sentido. Construtiva. Acompanhamento do raciocínio para o leitor.
Lacan quer destituir o sentido. Aquilo que vc supunha que era não é mais. Se ocupa de desconstruir os conceitos pasteurizados, para que se construa um mais legítimo. Noções extraídas do seu contexto. Trabalho a mais do leitor, do estudante.

Ainda bem que a mãe é carente, pq se ela não carece o sjto não se constitui.

Escuta do próprio significante - tarefa do analista. O sjto tá imerso nos seus significados. Essa escuta literal só se dá no cenário analítico.

O sjto qdo trava o diálogo com outro supõe um entendimento, dois eixos da relação discursiva (X). Relação especular, eixo imaginário entre semelhantes = a e a´.
Toda idéia de que no curso do diálogo há univocidade, é atravessada pelo eixo simbólico - o eixo do equívoco.


Escuta literal é se deixar atravessar pela equivocidade significante - analista: provocador da equivocidade.

Lacan quer combater a idéia de que o analista compreende o discurso do outro. A idéia de permanecer no eixo imaginário, especular.
Tudo se faz para evitar a relação do eu a eu. A miragem imaginária. Tudo é feito para que tudo se apague de maneira dual. Naquele lugar do analista não outro semelhante, não há amor, nem escape. O lugar do analista tá vazio.

A intervenção deixa um furo no discurso, um espanto. O sjto se surpreende em si mesmo em sua certeza egóica.

"O homem é possuído pelo discurso da Lei (da castração) e é em nome desse discurso que ele se castiga, e não cessa de pagar com sua neurose" (Lacan)

Estar submetido a uma lei, interdição de ser ou de ter o objeto. A palavra mata a coisa.

Psicanálise - a ciência da linguagem habitada pelo sujeito. Para Freud, o homem é sjto preso e torturado pela linguagem. Essa relação do sjto com a linguagem que a psicanálise evidencia e busca tratar.


Ler Wittgenstein. ***

Psicanálise não é uma tradução.... pq o analista não sabe que pode fazer.

Ler: O Discurso de Roma e A instância da Letra.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

SWU, eu volto

 É hora de voltar.

Não iria postar sobre, mas esse texto do Victor Lisboa me despertou lembranças bonitas do Festival SWU. Amo festas grandiosas com música alta e gente feliz e disposta. Agora mesmo tenho saudades, saudades do Guns, do Plant /Page e do Skazi pra me enviar out of space. Até do Life is Loop tô saudosa. Ora ora. Saturno retorna, é tempo de parar? Nah. 

Meninas de pernocas brancas e nuas com os braços dados; alguns amontoados contra o vento impiedoso da fazenda; rodas de boys, de plebeus, dos esparramados, e claro, rodas de fumo. E havia aqueles soltos demais pra qualquer roda, em suas danças independentes e assimétricas. O bumbo ou o sample desperta o sangue que fica ali no centro do meio do coração. Éramos ali crianças crescidas com os ouvidos gulosos de música forte. E que lindo o riso nas bocas e olhares quando soou a sirene que anunciava a entrada do RAGE. Inesquecível. A platéia atrevida, quando recebeu a ordem de se afastar um tanto do curral VIP respondeu em coro: AUMENTA O SOM, AUMENTA O SOM! Viva a estrela vermelha. Viva a música incendiária, os rostos inflamados, viva a gente em puro desfrute.

Que felicidade ansiosa é essa? 
É delícia em sermos, de novo, crianças recreando ao relento.


terça-feira, 28 de setembro de 2010

Pela legalização do Aborto - Parte II, A fecundação

Somos resultado de uma fecundação bem sucedida. Enlace de gametas. Bio-encontro. Sexo, puro sexo na grande maioria das vezes (não olvidemos os artifícios das produções laboratoriais). Poderíamos ser melhores, poderíamos ser piores? Não. Só poderíamos simplesmente não-ser.

Considerando que os espermatozóides se renovam a cada 72 horas no corpo masculino, ou em menos tempo em caso de ejaculação, se seu pai tivesse se masturbado uma vez a mais ou uma vez a menos, você já não seria. Caso sua mãe sofresse de um leve e usual desequilíbrio hormonal, você também não seria. Em seu lugar poderia ter sido outro, mais bonito, mais esperto, ou menos, ou nada.
 
Sacralizar a fecundação que se deu à revelia do desejo? Proteger esse emaranhado de células em detrimento do projeto de vida do casal?

A questão do aborto abala nossas camuflagens egóicas. Desmistifica a vida: não somos especiais enquanto embriões. Somos especiais quando investidos de libido, desejo, discurso, narrativa.