quinta-feira, 7 de julho de 2011

A Marcha das Vadias

- Pra começar

Pra quem não conhece a origem ou as razões da Marcha das Vadias, vale a pena saber o básico:

A Slut Walk realizou-se dia 03 de abril no Canadá como reação à fala de uma autoridade policial canadense que declarou que "as meninas deveriam evitar vestir-se como vadias se não quisessem ser vítimas de estupro."  

As vestimentas e postura de vida de uma mulher já foram* razões jurídicas aptas a excluir a responsabilidade penal do autor de um estupro. A mulher sofria uma dupla vitimização: a do estupro - um atentado traumático contra sua dignidade e liberdade sexual - e a dos doutos julgadores, que viam na mulher "leviana", "promíscua", "indecente" (ou uma mulher que se veste tal qual uma slut) uma mulher indigna de proteção jurídica. 

Não faz muito o termo "mulher honesta" (a merecedora de proteção) foi excluído do nosso Código Penal brasileiro. Os termos vão, os discursos ficam, a jurisprudência é farta, o bagulho é louco e o processo é lento.

O processo é lento, e a assimilação social da autonomia feminina ainda encontra suas resistências. Em muitos lugares essa espécie de discurso que quer apoderar-se do corpo feminino encontra sobrevida.


- Sobre o termo "vadia"

No Canadá, o policial utilizou o termo "slut" (promíscua, prostituta). Por ironia, por bom humor, por estratégia as meninas decidiram usar o termo com o qual o policial tentou ofendê-las para justamente protestar. 

Vestir a palavra-munição do rival como estratégia para desvalorizar o insulto e quem sabe reaver o termo.  
- Fulana, você é uma vaca. 
- Tudo bem, não vejo problemas com vacas. Elas são mansas, nos dão carne e leite, são amigas. O olhar das vacas é tão doce e resignado que até acho que não mereço ser chamada vaca. É nobreza demais pra mim

Mais ou menos isso.   

No Brasil o exemplo foi e tá sendo seguido. Achei apropriada a escolha do termo porque desvela rapidamente o preconceito contra à mulher ao compararmos os significados correntes de "vadio" e "vadia".
Vadio é o desocupado. Vadia é a leviana. O termo masculino remete à ausência de ação, o inerte, aquele que não trabalha. O termo feminino remete à ação sexual da mulher. A ousada, a vulgar, a promíscua. Demonstração óbvia de como discursos se operaram em detrimento da liberdade feminina. 

Choca a tradicional família curitibana, paulista, mineira, gaúcha mas é o preço da tentativa. Ninguém mexe com concepções tão arraigadas sem algum choque. 

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* Quis ser otimista. Mas desconfio que uma pesquisa mais apurada das recentes decisões judiciais demonstraria a insistência nesse argumento. 

3 comentários:

marie. disse...

Viu essa? http://www.youtube.com/watch?v=PJ_R2yPmqMQ&feature=player_embedded

Aline disse...

Não tinha visto o vídeo, mas conhecia o argumento. Nepotismo cínico que quer justificar-se pelo elitismo.

Em um debate convidamos a sra. Secretaria da Família para participar da Marcha. Ora, quem visita a Casa Cor pode muito bem participar de um movimento definitivamente engajado, né.

marie. disse...

É, te mandei o vídeo porque vi que você comentou no twitter sobre o convite! E outra, ela GOSTAR não é o suficiente para ser competente e ocupar o cargo.