quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Natal na avó

Fui contrariada. Olhei para a cama da minha vó com seus 5 ou 6 pintchers, a tela de 42 polegadas e me instalei.
Na infância não gostava de ir, embora tentasse com sinceridade. A vó, Dona Talita, matava as galinhas torcendo o pescoço e afogando-as numa bacia, depenava-as, fervia-as, servia-as com um molho vermelho gorduroso que me repugnava profundamente. Senti meu primeiro baque do real quando vi com a auréola azul no olho parado e morto, o bico semi aberto e o relevo dos poros da galinha que seria comida. Os adultos bebiam e dançavam algo como vanerão. Achava aquilo de uma vulgaridade tamanha que me constrangia estar ali. Pensava na sorte/azar de ali ter caído e me tornado. Um tornado.

(continua)

3 comentários:

Ana SSK disse...

Que bela lembrança.
Forte.

Tornou-se!

marie. disse...

Tenho uma recordação parecida de uma vizinha. Minha irmã adorava passar as tardes lá, uma família grande. Eu, repudiava as galinhas que um dia chamavam por um apelido, no outro viravam comida.

Thiago disse...

cadê a continuação?...