sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Trecho Rasante

O Rasante da Mangava


Ela se foi sem querer ir. Sem nenhuma convicção, disfarçando firmeza, ralhou consigo mesma e seguiu. Era necessário abandonar de vez o mal estar e as reclamações que aquele contexto trazia para si. 

A amenidade do sol e do vento a convocavam para a languidez e a indiferença. Mas o coração insistia em produzir aquela substância, aquele fluido que não se detecta em ecografias, o fluido que pesa e amarga o espaço entre seus seios. "Recomponha-se", pensava. Precisava falar, expor toda aquela crueldade sofrida. Era dor imerecida que precisava sangrar.

Mas calma, não há dor que perdure eternamente. Aquele corpo ainda jovem e ávido de vida era sábio e sabia que não demoraria para voltar a dançar. Quando a psique não dá conta e hesita, sobra a vantagem de se saber corpo que simplesmente vai.

9 comentários:

Ana SSK disse...

Nem sempre a dor é ruim. O sofrimento é que é.
Nosso "gozo" que o diga, não?!

gabrieldivan disse...

"...que nao se detecta em ecografias..."

!!!

:)

Nao, mesmo.

Carlos Alberto disse...

Nossa, texto legal :)

marie. disse...

o corpo se mantém.

Mariana Garcia disse...

Estende o braço. Espera abraço. Implora. Sente-se horrorizado por ver tudo arrasado sem compreender uma palavra dita. Apaga a luz e na escuridão da alma alheia queda-se perdido. Sabe que é cego e que tudo é placebo perto do que aquele ser espera...

EU SEI...EU SINTO...

Aline disse...

Meus queridos,

Lindos comentários. Fico muito grata por cada palavrinha aqui. É alimento para novos escritos. ♥

Ana SS, de fato, ás vezes patinamos no desfrute do sofrimento. É a satisfação cruel daquele que se maldiz atordoado. É preciso estar atento para não tornar a dor uma pecinha de estimação. Há quem se sustente no sofrer.

Mariana Garcia, seu comentário me tocou especialmente. O absurdo do desencontro. O abismo da perda que é bruta. O amor pode ser bruto também. Desespero da ausência. Lindo, linda!

Marie, Gabriel e Carlos Alberto: obrigada pela visita e pelo comentário. Gosto MUITO quando vocês gostam.

Beijos, daquela que hoje se sabe satisfeita.

C/ carin, Aline.

Mari Garcia disse...

Essa semana passando por Pelotas/RS descobri que depois que dizemos "obrigada" o povo de lá responde com um "merece".
É o que te digo aqui, querida Aline: "MERECE"
Compartilhar momentos da existência radical com uma receptora como você é muito, mas muiiito, gostoso. Dá um alívio na angústia... ;)
Beijão, linda!

Anônimo disse...

Lindo texto e lindo blog, que eu hoje descobri. Parabéns.
Fiquei com uma angústia por pensar na fragilidade desse corpo que rompe a paralisia do medo, da dor, do sofrimento. Talvez por dar mais ouvido à razão, ou psique, desarrazoada tantas vezes. Por cair no consenso de subestimar o corpo, do qual tento escapar valorizando o coração.
Um beijo.
Quero segui-la no twitter, posso?
Thiago - @rofinlo

Anônimo disse...

E quando cair,
Se de longe for,
Estendo-lhe a mão.

Dance em cada músculo e sinta pulsar.
Sorria e chore, mas permaneça.

Beijos e força ;)