terça-feira, 27 de julho de 2010

Resgate


Quando eu era pequena as joaninhas sempre pousavam em mim; eu descolava os caracóis no muro do jardim, e alguns eu esmagava, pra ouvir a casquinha quebrando.

Colhia os tatus-bola embaixo das pedras e tentava abrir os mais resistentes.

Consolava meus irmãos quando eles caiam ou sangravam, e me sentia forte e adulta relatando meus tombos anteriores. Eles riam.  

E ri como nunca quando descobri a magia da queima de bombril. A partir de então, passei a esperar inquieta pelas noites. Até me acostumar, e perceber que é preciso não desgastar tanto as surpresas.  

.

7 comentários:

Victor disse...

Tratemos de resgatar não só as (preciosas) memórias daquela época, mas tb o encantamento que tínhamos com o mundo. Acho q é possível.

Aline disse...

Resgatar o maravilhamento e o tempo vadio.

Anjo Mau disse...

Poético, mas desta vez não criticarei, como fiz numa postagem anterior. Saliento que permanecem os mesmos problemas, mas eu sou otimista e vou mergulhar no seu pensamento.

Queria ter a sua inquietude, pois que a aflição que tem uma vida paralela à minha, untada em minhas víceras, e fareja a morte no segundo seguinte, dada à incerteza quanto ao seu acontecimento. Agradaria-me a doce excitação (sexual) que permanecia pulsante enquanto descobria as coisas. Sempre achei, cara Aline, que a descoberta era a filha bastarda da imaginação. Daí que minha fantasia infantil era indissociada da descoberta e, conseuquentemente, do mistério.

Eu faço questão de ficar aflito com o desconhecido. E o faço, a fim de resgatar o mistério que me acendia a libido, de forma lúdica, com o erotismo que é o sagrado do sexo, na sentença da nossa principal escritora

Flávia disse...

Essa sensação descrita no último parágrafo corresponde exatamente a alguma coisa não identificada que me fez muita falta durante muito tempo: encantar-me com supresas faiscantes - simples, às vezes fogos-fátuos de tão efêmeras, mas, ainda assim bonitas de se (vi)ver enquanto não se apaga sua condição de surpresas.

Beijo, menina.

Carol disse...

ai, aline, descobri agora que vc é uma graça.

Aline disse...

Obrigada, queridas! Apareçam sempre nesse cantinho.

autor disse...

é mesmo, às vezes a espera pela festa, e os preparativos e tudo aquilo que precede o prazer do momento que (geralmente) é muito curto pro tamanho da expectativa é mais excitante do que a chegada do esperado efetivamente.. sei lá. pq demorei tanto pra descobrir isso aqui hein?
(que merda)
=)