Naquela via rápida fora aberta uma creperia, que também contava com uma adega. Toalhas de linho cor-de-rosa envelhecido e taças de cristal repousavam nas mesas. A iluminação baixa e amarelada era aconchegante. E apesar dos ares de requinte, os preços eram convidativos, em especial dos vinhos. Mas ninguém ali parava. Nas minhas idas e vindas por aquela via nunca tinha deparado com um cliente, um visitante. Senti um certo desconforto. Quase uma compaixão pelos proprietários.
Há duas quadras dali as franquias de sanduíches pasteurizados lotadas. Os refeitórios gélidos e tumultuados dos shoppings também. E a abandonada creperia só era preenchida pela sonoridade dos seus tangos e os aromas de vinho e chocolate que ela mesma produzia.
As pessoas aqui da capital-província de passos apressados, ou indiferentes em seus automóveis não se demoram no inusitado. E, ao investigar em mim a razão do suportável mal-estar, me identifiquei com aquela proposta inadequada... com aquele belo projeto que não rendia. Com alguma luminosidade, mas protetora de suas penumbras eu era também uma creperia numa via rápida.
Um comentário:
Pobre do homem que pensa que sabe o que se passa na cabeça de uma mulher...
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