
Hilda Hilst em A Obscena Senhora D, gerou Hillé, que é "medo e mulher", e que pergunta provocativa: "tocaste las cumbres del amor, tocaste?".
Texto estranho aos pretensos normais. Texto que demonstra o peso do feminino, essa suspensão confusa do instituído, esse vácuo em que caminha pralém da ordem simbólica, quando tenta dizer o amor como um novelo espiralado de duras babas, ou o identifica com o som dos figos quando os abrimos, e ainda, quando diz algo sobre o orgasmo:
Texto estranho aos pretensos normais. Texto que demonstra o peso do feminino, essa suspensão confusa do instituído, esse vácuo em que caminha pralém da ordem simbólica, quando tenta dizer o amor como um novelo espiralado de duras babas, ou o identifica com o som dos figos quando os abrimos, e ainda, quando diz algo sobre o orgasmo:
"(...) te deitavas viuvez e terra mas Ehud te tocava e viravas barca, incandescência, um grosso aguar, um sol de esturpor mas também escuro e violento."
Gustav Klimt ousa, em 1898, a retratar os olhares de languidez e libido da mulher desejante. Mulheres emaranhadas em adornos, galhos, serpentes, veludo e água. Mulheres à vontade com sua nudez em pêlo. Indolentes mulheres que têm a petulância de desejar.
Infelizmente só há notícia do desaparecimento do afresco Jurisprudência que Klimt havia pintado para a Faculdade de Direito da Universidade de Viena. "Em primeiro plano aparecia um ancião decrépito, rodeado pelos tentáculos de um estranho cefalópode, entre três figuras femininas nuas e insensíveis ao castigo do homem. No extremo superior, as imagens alegóricas da Verdade, da Justiça e da Lei contemplam a cena indiferentes."
Uma análise interessante do castigo erotizado da Justiça tá em: http://www.artehistoria.jcyl.es/genios/cuadros/14392.htm
Hilda Hilst, a dama da rutilância-cintilante com mania de Deus, também expõe criticamente o mundo hermético dos juristas (graduou-se na SanFran), mundo que ela abandonou porque, suponho, não poderia abarcar sua inquieta alma plena de lirismo:
"Recomponho noites de sofisticações, políticas, deveres, uma sociologia do futuro, um estar aqui, me pedem, irmanada com o mundo, e atuar, e autores, citações, labiosidade espumante, o ouvido ouvindo antes de tudo a si próprios mas respondendo às gentes com elegância propriedade esmero como se de fato ouvisse as gentes, teatro, tudo teatro (...)"
A identificação com o cansaço por tudo isso foi inevitável. Por isso a homenagem é pra ela que tinha "aflição em ser água em meio a terra." Ela que nos proporcionou uma das mais ilustrativas descrições sobre a paixão:
"(...) paixão é a grossa artéria jorrando volúpia e ilusão, é a boca que pronuncia o mundo, púrpura sobre tua camada de emoções, escarlate sobre tua vida, paixão é esse aberto no peito, e também teu deserto."
Agora, enquanto inauguro esse blog de imbróglios sinto só uma falta enorme em ter o que dizer. Tentarei disfarçá-la com esses geniais autores e artistas. É o que resta.
"Recomponho noites de sofisticações, políticas, deveres, uma sociologia do futuro, um estar aqui, me pedem, irmanada com o mundo, e atuar, e autores, citações, labiosidade espumante, o ouvido ouvindo antes de tudo a si próprios mas respondendo às gentes com elegância propriedade esmero como se de fato ouvisse as gentes, teatro, tudo teatro (...)"
A identificação com o cansaço por tudo isso foi inevitável. Por isso a homenagem é pra ela que tinha "aflição em ser água em meio a terra." Ela que nos proporcionou uma das mais ilustrativas descrições sobre a paixão:
"(...) paixão é a grossa artéria jorrando volúpia e ilusão, é a boca que pronuncia o mundo, púrpura sobre tua camada de emoções, escarlate sobre tua vida, paixão é esse aberto no peito, e também teu deserto."
Agora, enquanto inauguro esse blog de imbróglios sinto só uma falta enorme em ter o que dizer. Tentarei disfarçá-la com esses geniais autores e artistas. É o que resta.
(Imagem: Gustav Klimt.)
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